quinta-feira, 28 de julho de 2011

O AMANHECER DO QUINTO DIA


(ATUALIZADO DIA 10/02/2012)

(Esta é uma referencia direta ao livro "Guardião" de JAMES STONE GARDEN, em processo de finalização)


PRIMEIRO DIA

Ele respirava fumaça pelas narinas, não enxergava nada a sua frente, ouvia os gritos das pessoas, caminhou cambaleante em direção qualquer, estava desorientado, ouvia explosões ao longe, tentava se lembrar que merda estava acontecendo.
Lembrou-se que na manhã deste mesmo dia ele acordou cedo, parecia que iria ser mais um dia ordinário no qual ele iria trabalhar e viver sua vidinha incompleta, mas algo estava estranho, de repente o dia foi substituído por uma noite sem estrelas às três horas da tarde!
Todo mundo foi para as ruas, o mundo inteiro parou para ver o fenômeno, ele estava trabalhando como sempre em seu escritório na Avenida Paulista, tentaram ligar a TV para ver alguma noticia, mas nada do sinal, nem rádios, nem celulares, nem telefones funcionavam durante o eclipse do firmamento.
Rodolfo desceu pelas escadas do prédio doze andares até alcançar a rua, pois a energia também havia acabado. Não demorou muito para ouvir as primeiras sirenes do corpo de bombeiros, algo parecia muito errado.


Enquanto isso no centro da cidade outro cidadão estava curtindo um merecido primeiro dia de férias, Wander, estava cansado dessa vida de coordenar pessoas, preferia as maquinas, mas o fato era que na vida temos pouco direito a escolhas e se somos bons em conduzir certas coisas devemos vender nossas almas pelo dinheiro que nos pagam por ela e depois talvez pagar um tratamento psicológico em um analista qualquer por ai.
Estava esperando seu filho Gabriel no marco zero da Sé, fazer aquela coisa de programa de Pais&Filhos, mas seu filho não era mais criança, esperava o garoto de 19 anos que trabalhava ali por perto sair para almoçarem juntos, como havia tempos eles não faziam, mas o céu foi coberto por uma maldita escuridão... No começo ele achou apenas que fosse tontura e sua vista escurecendo, mas percebeu que todo mundo olhava para o céu ao mesmo tempo.


Rogério estava ali por perto, acabara de sair do metrô e encontrou os céu escurecido, consultou o relógio, algo não condizia com as 15:12 da tarde, ele via o alvoroço das pessoas e de um pastor que gritava eufórico que era o fim dos dias, que era o julgamento final!
abaixou-se para amarrar o sapato e uma árvore passou voando por sobre a sua cabeça, sorte! ele correu para junto de um homem que estava abaixado tentando fazer uma ligação desesperado pelo seu celular.
— O que está acontecendo aqui? — Perguntou Rogério
— Não tenho a mínima ideia cara, eu estava esperando meu filho, de repente o céu escureceu e agora essa ventania! E agora parece que essa porcaria de celular não funciona!
— Deixe eu ver se tenho sinal — Falou Rogério — Negativo, sem sinal também.
Então os dois escutam um grito de socorro, uma mulher desesperada.
Olham um para o outro e levantam-se naqueles impulsos de coragem que todo ser humano tem quando sabem que podem fazer alguma coisa, desde que não seja contra alguém armado!
Quando visualizaram a cena viram o seguinte:
Um garoto magricela, de aproximadamente 14 anos encarava um ser de mais de 2 metros de altura com a pele vermelha escamosa que brandia um machado flamejante.
Cada golpe da coisa o garoto desviava com a graciosidade de um gato, em um dos ataques o machado da criatura ficou preso ao concreto no chão, o garoto correu sobre o machado tirou uma faca que estava presa no cinto do peito da criatura e cortou-lhe com o artefato no rosto, com o impulso ele em uma acrobacia insana caiu em pé nas costas do monstro e lhe Enfiou a faca no ouvido fazendo a criatura tombar!
Os dois homens não sabiam o que falar, fazer, ou o que quer que fosse. Que merda era aquela, pensaram em conjunto, mesmo sem saber. O garoto ajudou a mulher se levantar limpou a faca na barra da calça e saiu correndo em direção a Brigadeiro.
Ikarus não sabia de onde tinha tirado tanta força e habilidade para fazer o que acabara de ter feito, em algum momento ele se lembrou de seu pai e talvez isso tivesse impulsionado a fúria dentro de si, agora ele corria sem direção, o coração acelerado e a faca do monstro na sua mão esquerda.

James tinha acabado de chegar a São Paulo (Vejam o que aconteceu com ele em "Guardião") tinha se separado de Rodrigo e de Pah e seguiu em direção a sua velha casa, onde morava com a ex-esposa, queria rever seu filho, queria explicar para ele várias coisas, queria ser um pai nos últimos momentos.
— James? — Uma voz feminina o chamou assim que ele desembarcou do metrô.
Ele olhou para o rosto e reconheceu a figura, fazia mais de 10 anos que não a via, ela continuava linda e seus olhos continuavam perigosos.
— Coincidência te encontrar aqui! — Ela disse
— Não conte com isso, te contei várias e várias vezes sobre sentimentos estranhos que eu tinha e hoje eu pude confirmar, o único conselho que posso dar para você agora é corra e fique junto de quem ama, por que o tempo é curto.
— Credo, depois sou eu quem não cresce, não sou mais uma garotinha viajando na maionese, agora sou mulher.
— E eu não sou mais um cara que imagina as coisas, eu as vivo!
— Já vamos brigar? Não tem nem 2 minutos que nos reencontramos!
— Não tenho tempo pra isso, preciso encontrar meu filho e....
Antes de terminar a frase o céu todo ficou escuro, a temperatura caiu, ele mirou seus olhos no dela, com um semblante de "eu não te falei que não havia mais tempo?" e ela por outro lado olhou para ele com olhos de: "socorro eu continuo uma garotinha indefesa"
James olhou para o céu e viu uma bola de fogo cair em sua direção, ele saltou para trás, da cratera que abriu, em meio ao fogo e fumaça surgiu um ser de 2,5 de altura, com uma espada flamejante e grandes asas negras, em seus pulsos havia grossas correntes douradas, como que se estivesse preso em algum momento.
— Enfim encontrei você — Falou a criatura
— Quem é você — Perguntou James.
— Não importa, o que realmente importa é isto!
Com a espada ele arrancou o braço direito de James que nem teve tempo de gritar, então ele pegou-o pelo pescoço e o atirou na cratera flamejante, levantou a espada para o céu e desceu um relâmpago, juntamente com uma tempestade de ventos que arrancava as arvores do solo.
A mulher se agarrava como podia em um poste para não ser arrastada.
Com a fúria do clima desceram centenas de raios em direção a cratera onde James se encontrava.
James sem braço, várias costelas quebradas, talvez as duas pernas, alguns dentes, estava esmagado contra o solo, depois de tudo o que passou iria terminar assim, sentia seu corpo queimar, e sentiu a descarga de milhões de voltz... Enfim Escuridão.



SEGUNDO DIA

Rodolfo havia encontrado Ikarus no primeiro dia e tinha permanecido com o garoto batalhando nas ruas turbulentas da cidade, e aos poucos foram agregando-se outras pessoas ao grupo, como o jovem Gabriel e um colega seu de trabalho medroso, o Nelson, o grupo agora contava com 15 pessoas e ele ainda não havia decorado o nome de todas, mesmo por que até duas horas atrás eram quase o dobro e as que morreram ele nunca vai saber o nome, o que ele percebeu é que em grupos menores eles se escondem melhor e chamam menos atenção, sem falar que os alimentos duram mais tempo.
Ikarus estava com seus novos companheiros, fazia seu turno de guarda, vale lembrar que muita coisa mudou nas ultimas 24 horas, a vida no planeta, patética, rotineira e chata havia se extinguido e dado lugar a uma paisagem desolada de carros virados, focos de incêndio, corpos mutilados espalhados pelas grandes avenidas que eram agora patrulhadas por cães do tamanho dos grandes felinos.
As pessoas sobreviviam da forma que dava, era difícil conseguir alimento em meio ao caos sem ter de arriscar suas próprias vidas, todos se perguntavam o que estava acontecendo com o planeta, havia também aquelas criaturas escamosas de pele vermelha e com armas flamejantes, estavam perdidos, a humanidade iria ser dizimada em poucos dias se continuasse assim.
Teorias em volta das rodas de sobreviventes iam desde o Apocalipse até invasão extra-terrestre, fosse o que fosse o fato é que realmente viviam no fim dos dias, desde que o céu escureceu o Sol não dava as caras em ponto algum da terra, ninguém entendia o que estava acontecendo nesta altura do campeonato.
— Ikarus, está pensando em que? — Disse o Rapaz loiro encarando com seus olhos azuis os olhos castanhos escuros de Ikarus, que apesar de ter apenas 14 anos demonstrava maturidade em relação a tudo o que estava acontecendo.
— Nada demais Gabriel, eu estava pensando apenas que algumas horas atrás eu estava cabulando aula para comprar DVDs para o vídeo game e agora estou vivendo praticamente uma aventura que poderia estar em qualquer um deles. —Respondeu Ikarus sorrindo.
— Cara, como você consegue ter senso de humor em uma situação como essa?
— Não sei, devo ter puxado isso do meu pai.
— Por falar em Pai, ainda não desisti de procurar meu coroa, eu sinto que ele está em algum lugar por perto e vivo, ele nunca desistiu assim fácil das coisas.
— Pode ser, agora eu já não penso assim do meu Pai, ele deve estar morto em algum lugar por ai, sempre foi um fraco, desistia de tudo, desistiu até de mim.

Wander e Rogério estavam com mais um grupo de pessoas, fazendo atividade similar aos outros grupos, buscando sobreviver em meio ao Caos, nos últimos anos Wander tinha se tornado uma pessoa muito religiosa e tinha certeza que isso era um aviso dos céus que a humanidade estava condenada, estavam usando como base a igreja da Sé, onde de alguma forma eles sentiam-se seguros.
Rogério estava apenas calado, pensava que nas ultimas horas eles conseguiram abater um daqueles malditos cães enormes com armas conseguidas na base policial móvel, os policiais estavam mortos com exceção de um que estava no grupo, o cara estava tentando liderar ele, Wander, uma adolescente chorona de uns 16 anos, um velho surdo e dois garotos de rua que ainda estavam sob efeito do crack.
— Ainda preocupado com teu filho? — Perguntou Rogério a Wander.
— Não muito, pedi para que Deus o protegesse e em troca eu vou abater quantas destas bestas forem possível até morrer.
— Eu não pedi nada em particular para Deus, mas vou te ajudar nesta empreitada de abater esses pit bulls dos infernos.

Ela estava sentada por horas ao lado do tumulo de pedras, pensava na criatura que disse se chamar Absinto, riu quando ela tentou o atacar com socos mal desferidos em seu abdome musculoso que era a parte que ela alcançava, a criatura a afastou com um empurrão e abriu suas asas negras e ganhou os céus igualmente escuros gargalhando.

Escuro, quente... Silencioso.
Sua mente não havia parado, sentia que seu corpo estava todo quebrado, será que a morte era assim? Um tormento eterno na escuridão, sentiu remorso de enterrar as pessoas que amava, deveria sim era mantê-las congeladas com seus corpos virados para televisores, pelo menos assim a morte não seria tão chata, estariam ligados no que estava acontecendo, se estivesse vivo ele iria rir de toda essa idiotice que pensou, que porra! Ele havia atravessado a cidade, enfrentado algumas criaturas no meio do caminho, tinha feito amigos, estava prestes a reencontrar sua família, havia revisto aquela garota que ele mesmo treinou na arte da argumentação e agora estava enterrado em meio a destroços de concreto fundido com fogo infernal.
Em um esforço qualquer percebeu que conseguia mexer os dedos, depois percebeu que sentia seu corpo, um formigamento, lagrimas quentes em sua face queria chorar alto, gritar de raiva, xingar alguém! "DEUS me ajuda", ele queria ajudar as pessoas, ele era deste jeito, nunca pensava em si mesmo, nunca foi alguém na vida, nunca teve nada. Queria Explodir!
Uma nuvem de poeira levantou-se daquele tumulo de pedras no meio da rua, a garota foi afastada devido ao choque sísmico que levantou concreto a 5 metros de altura, a poeira ia baixando e ela começou a distinguir as formas que ela conhecia bem, mas ele estava diferente, seus cabelos castanhos escuros estavam acinzentados, seus olhos da mesma cor estavam amarelados e suas asas... Suas Asas?

Terceiro dia

Eles corriam freneticamente descendo a Augusta, das quinze pessoas apenas Rodolfo, Ikarus e Gabriel estavam em pé e provavelmente não iria durar por muito tempo, lhes faltava o ar nos pulmões para continuar correndo, as pernas estavam queimando como o fogo do quinto dos infernos e a esperança começava a abandonar seus corações.
Gabriel desviava-se como podia das investidas dos Cães infernais, Ikarus vez ou outra quando escapava dava chutes com suas fracas pernas de adolescente e Rodolfo pedia por um milagre, e foi durante esse pedido que veio o disparo!
Wander estava no telhado da biblioteca municipal, observou as três pessoas que desciam desembestadas correndo, logo atrás percebeu um grupo de pelo menos cinco bestas infernais, com a mira telescópica do rifle, ele mirou na testa de um dos Cães e o abateu antes dele derrubar o homem, procurou pelos garotos, ao passar a mira por um deles seu coração disparou, era seu filho!
— Rogério, me ajude aqui! Meu filho está entre eles!
No mesmo instante Rogério começou a disparar, nos Cães, de certa forma os dois formavam uma bela dupla de atiradores.
Rosa, uma das garotas do grupo de Wander, abriu as portas da biblioteca permitindo ao trio que entrasse, no entanto a ultima das bestas ainda estava viva, quando saltou para abocanhar a cabeça de Rosa ela foi agarrada por um brutamontes, Adriano Luiz era lutador de MMA, travou a cabeça da criatura e a sufocou com seus fortes braços até ouvir o som de ossos e nervos se partindo.
Eles estavam perdendo o medo de lutar, estavam exercendo o direito de lutar pela vida, pela terra, pelo amanhã!
Ela amparava aquele homem que saiu do meio dos escombros, ela teve uma visão maluca de tê-lo visto com asas, mas durou apenas alguns milésimos de segundo e agora ele estava apagado por horas.
James levantou-se cambaleante, observou suas mão intactas, jurava que a criatura tinha lhe arrancado um braço! Era carregado pela garota que ele havia encontrado por acaso, ela o levava com dificuldade até que avistou pessoas correndo para dentro da biblioteca nacional, largou James no chão e foi pedir Ajuda. Adriano cuidou de colocar James para dentro da biblioteca.
— Algum problema Ikarus — Perguntou Gabriel, que estava radiante de ter encontrado o Pai.
— Este homem... Que vem sendo carregado é o meu pai!


(Continua)

James Stone Garden


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