terça-feira, 18 de outubro de 2011

Um conto de CAÇADOR



O homem temido pelos criminosos de São Paulo, conhecido como "o Caçador" não foi sempre frio e calculista como as pessoas o vêem agora, em algum momento ele se importava até mesmo com a sua caça.





10 anos atrás

Ele estava sentado no ônibus ouvindo um Walkman, mordiscando batatas industrializadas e tomando refrigerante, era mais um dia normal, uma quarta-feira comum, o trabalho tinha corrido bem, as pessoas no coletivo estavam cansadas tal como ele, no entanto aconteceu uma cena, embora não aconteça todos os dias, para uma metrópole como São Paulo seja um tanto quanto comum:

O Homem adentrou usando a touca-capuz de sua jaqueta empunhando uma arma a qual apontou para a cabeça do cobrador do coletivo.

— É um assalto caralho! — Ele gritou, embora fosse óbvio. — Passa toda a grana que você tiver ai!

O funcionário da empresa de ônibus de pronto atendeu o que o rapaz que deveria ter no máximo 16 anos havia pedido.

Outro jovem que aparentemente era parceiro dele olhou em volta enquanto o suor escorria da sua face, também tinha uma arma em punho disse para todos no ônibus:
— O restante de vocês também pode passar a carteira para a gente.
Um homem com dificuldade de retirar a carteira do bolso devido a sua obesidade levou uma coronhada na boca. Quando o que estava com a arma apontada para o cobrador se virou para observar a cena um jovem que estava em pé o agarrou pelo braço torcendo o pulso e fazendo a arma soltar, percebendo a ação o outro virou-se para atirar no jovem que havia imobilizado seu colega de crime, mas o senhor que havia levado a coronhada na boca, apesar de ser gordo não era nada fraco, empurrou o jovem contra a lateral interna do coletivo fazendo-o bufar de dor enquanto a arma timidamente fazia um clack no chão do ônibus,
O que se sucedeu em seqüência foi o inicio de um linchamento, as pessoas do ônibus espancavam os jovens de tal maneira que o homem sentado que ouvia walkman levantou-se e retirou os adolescentes do meio da muvuca generalizado, sobrando para ele ainda algumas pancadas nas costelas.
Uma viatura passava no local e conseguiu conter a multidão, os jovens delinqüentes agradeceram ao jovem homem que os retirou da morte certa em meio ao linchamento.

Naquela noite ele não conseguiu dormir, “eram seres humanos” pensava, “mas também pouco se importavam com os outros seres humanos”, o que ele deveria fazer neste caso? Estava certo ou errado?

HOJE

Aquele homem agia friamente, tinha acabado de matar um homem em um bar apenas por que ele havia perdido no jogo de sinuca, andava calmamente em direção a sua casa brincando de jogar uma moeda para cima e a pegar no ar.
Quando passava por um trecho escuro uma sombra o atirou contra um muro, ele tentou falar alguma coisa, mas teve as palavras engolidas devido a um soco que levara pra dentro de sua garganta alguns dentes.
Mesmo assim conseguiu se levantar, balbuciou algo que talvez fosse “Quem é você filho de uma puta?” tentou pegar sua arma e então percebeu que ela estava na mão do homem das sombras. Investou contra ele tentando dar-lhe socos, mas teve a mão segura e em um movimento lateral  o homem lhe tirou o equilíbrio e com um soco no cotovelo lhe quebrou o braço invertendo a articulação, dobrando-o ao contrário.
A dor foi tanta que o homem desmaiou por cerca de 15 minutos, tempo suficiente de Caçador o levar para um terreno baldio dobrado sobre a garupa da moto “confiscada” mais cedo de outro criminoso.
Foi acordado docilmente com um jato de água na cara.
Ao abrir os olhos viu pela primeira vez o homem fora das sombras, usava um capuz deixando sua boca visível claramente e apenas o brilho dos olhos perceptível pela camada de sombra da indumentária, apesar disso era um rosto extremamente familiar.
— Estive pensando que para tudo na vida, bem ou mal, precisamos apenas de um motivo... O motivo é o que impulsiona o ser humano a fazer determinadas coisas, e os motivos são sempre acarretados por outros seres humanos, se alguém lhe dá a mão você pode se levantar, se alguém lhe nega ajuda você aprende a morder... Acredite somos todos iguais. — Falou caçador calmamente enquanto abaixado mexia em um pouco de grama no solo.
— O que você ta falando cara? — Perguntou o criminoso
— Dez anos atrás eu lhe estendi a mão, impedi que fosse linchado e ao invés de se redimir você continuou fazendo o que fazia e pouco tempo atrás matou o homem que estava lhe ajudando a assaltar o ônibus naquele dia. — Falou o caçador
— Calma cara, eu nem sei do que voc..... — Foi impedido com um soco no estomago, percebeu só então que tinha as mãos amarradas para trás. e estava de joelhos.
— Não permiti que você falasse, apenas escute, como eu estava dizendo: Eu fui atormentado por 10 anos se havia feito a coisa certa, acho que fiz, eu lhes dei uma chance, mas vocês desperdiçaram então a culpa não foi minha, mas eu não costumo dar segundas chances.
— Por favor, cara! N.... — Outro soco.
— Eu já disse para você não falar nada, enquanto eu lhe sentencio. Eu demorei para te achar mas consegui, precisava saber o que você estava fazendo com a sua vida e agora Por dez anos de pecados as minhas custas, eu condeno-o a ser arrastado vivo por esta moto, e como pode perceber você já esta amarrado à ela, seu julgamento acabou.
No dia seguinte grudada com fita crepe à moto estava uma lista de crimes do homem que estava morto preso a uma corda amarrada na moto, e um pedido de desculpas do Caçador, dizendo:

“segundas chances merecem apenas aqueles que a buscam”.




James Stone Garden
veja os outros textos aqui
 CURTA A PÁGINA DO AUTOR NO FACEBOOK CLICANDO ABAIXO